sábado, 29 de maio de 2021

Sincretismo

     Falar de religião implica tocar no tema sincretismo, especialmente no Brasil ou pelo menos mais evidentemente aqui do que noutros países. Temos modos de sentir e vivenciar as religiões com características de nossa cultura. Temos a Umbanda, uma religião que nasceu no Brasil, fruto do encontro da religião colonial católica com os cultos trazidos pelos africanos escravizados, permeados por elementos dos povos indígenas e por fim com a doutrina espírita explicitada nos escritos de Kardec, importada da França por intelectuais brasileiros. Portanto, falar de sincretismo é algo necessário em nosso meio cultural, pois não só a Umbanda possui elementos sincréticos, citamos essa religião como exemplo óbvio para o tema. O autor Leonardo Boff trata de forma bastante rica o tema sincretismo em sua obra Igreja: Carisma e Poder, texto altamente recomendado para quem desejar se aprofundar no assunto. E é Boff que nos explica:

Num estudo bastante minucioso, temos mostrado alhures, que o cristianismo puro não existe, nunca existiu nem pode existir. O divino sempre se dá em mediações humanas. Estas se comportam face a ele dialeticamente: constituem o divino na concreção da história (identidade), revelando-o, bem como o negam, por sua limitação intrínseca (não identidade), velando-o. O que existe concretamente é sempre a Igreja(s) como expressão histórico-cultural e objetivação religiosa de cristianismo, vivendo a dialética da afirmação e da negação de todas as concretizações. (Boff, 1981, p. 150) (grifo nosso)

    Da mesma forma outras expressões religiosas, salvo melhor juízo, não podem expressar-se de forma pura, por conta da mediação humana, permeada pela subjetividade que interpreta e reformula tudo que chega ao ser humano, ficando a cargo das instituições religiosas a concretização mais formal e padronizada do que costumamos chamar de ortodoxia ou doutrina.  A prova disto é que mesmo dentro da fé cristã existem várias Igrejas, ou seja, várias concretizações da religião cristã.

    Mas, será que o sincretismo é algo negativo? O próprio Boff responde: 

O sincretismo, portanto, não constitui um mal necessário nem representa uma patologia da religião pura. É sua normalidade como momento de encarnação, expressão e objetivação de uma fé ou experiência religiosa. Pode, como veremos, apresentar patologias. Mas fundamentalmente emerge como fenômeno universal constitutivo de toda expressão religiosa. (Boff, 1981, p. 151) 

    Assim, desejar que uma religião seja pura em sua expressão pelos seus seguidores é algo desconsidera a realidade do grupo, e provocará cismas como normalmente ocorre nas Igrejas Evangélicas, as quais contam centenas ou milhares em nosso país, cada qual buscando atender o maior ou menor grau de ortodoxia. A aceitação de que o povo em seu meio sociocultural tem demandas e modos de ser que as religiões devem buscar entender e atender são assim explicitadas por Boff:

Impõe-se hoje em dia cada vez a convicção de que o presente sincretismo cristão e católico se tornou incapaz de fazer justiça aos direitos de outra cultura e de responder adequadamente a exigências da alma negra. [...] A umbanda dá a impressão de ser um protesto popular contra todas as formas religiosas importadas e insuficientemente adaptadas ao ambiente [...] Daí se depreende que o futuro do cristianismo no Brasil está subordinado à capacidade maior ou menor que possui de articular um novo sincretismo. Sua atual expressão cultural nos quadros da cultura greco-romano-germânica pertence a sua glória passada. E tudo indica que será definitivamente passada para a nova cultura que entre nós se esboça. (Boff, 1981, p. 170)

    Esperamos ter estimulado a reflexão sobre pureza doutrinária versus sincretismo, algo que julgamos ser visto apenas de forma negativa tanto pelos adeptos quanto pelas lideranças religiosas. Desejamos que um novo olhar sobre o tema, conforme lançado por Leonardo Boff, possa auxiliar na reelaboração das expressões religiosas no sentido de assumir as adaptações necessárias ao meio sociocultural brasileiro, evidentemente sem distorcer a essência das propostas religiosas, porque aceitar que haja sincretismo não implica em converter-se ao que vem de fora mas, aceitar, entender e dialogar visando à conversão para a identidade que abarca o que está nela sincretizado. 

Referência

BOFF, Leonardo. IGREJA: CARISMA E PODER-Ensaios de Eclesiologia Militante. 2. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1981.


    

 







quinta-feira, 13 de maio de 2021

Brasil Sem Religião

    Seguindo na divulgação dos dados dos Censos Demográficos do IBGE (1991, 2000 e 2010) disponibilizamos a consulta relativa ao contingente dos Sem Religião. Em nosso post anterior disponibilizamos os dados sobre o contingente Espírita. Essas páginas de consulta permitem que se especifique o Estado (UF), município, faixa percentual do contingente e a faixa populacional a serem pesquisadas; permitindo que se combinem estes parâmetros para melhor conhecer a evolução e distribuição dos contingentes em nosso país. 

     Veja as tabelas com a população Sem Religião por UF (unidade federativa, ou Estados da União), ao longo dos três últimos Censos Demográficos do IBGE:


    Se você quer avaliar a evolução do contingente Sem Religião ao longo dos três últimos Censos Demográficos do IBGE (1991, 2000 e 2010), clique no link abaixo:-

Basta clicar no link abaixo:-

Evolução percentual média dos Sem Religião (gráfico dinâmico)

Evolução do contingente Sem Religião (consulta parametrizada)


terça-feira, 11 de maio de 2021

Brasil Espírita

    Já se passaram 11 anos desde o Censo IBGE 2010, ainda aguardamos a liberação de orçamento para a realização de um novo censo demográfico, o que poderá ocorrer neste ou no próximo ano. Portanto, julgamos ser muito oportuno publicarmos os dados do IBGE até 2010, o que irá permitir que se conheçam os dados e assim possamos digerir com muito mais propriedade os dados que virão no próximo censo demográfico. Vamos torcer para que logo seja aprovado o orçamento para que possamos avaliar a evolução dos contingentes religiosos em nosso Brasil. 

    Veja as tabelas com a população espírita por UF (unidade federativa, ou Estados da União), ao longo dos três últimos Censos Demográficos do IBGE:


 

    Se você quer avaliar a evolução do contingente Espírita ao longo dos 3 últimos Censos Demográficos do IBGE (1991, 2000 e 2010), clique no link abaixo:-

Evolução percentual média dos Espíritas em cada Estado (gráfico dinâmico)

Evolução do Contingente Espírita no Brasil (consulta parametrizada)


    A imagem abaixo mostra a distribuição espacial dos Espíritas no Brasil, você pode clicar sobre o mapa para ampliá-lo. É possível especificar parâmetros para produzir a imagem geo-espacial, solicite via seus comentários para que possamos liberar, caso haja interesse.



Para ler melhor a Bíblia e outros textos sagrados

 Técnicas de interpretação da Bíblia - outubro de 2020

(por: Jeferson Betarello -jbetarello@gmail.com - mestre em Ciência da Religião-PUC/SP)

    A bíblia é sem nenhuma dúvida o livro mais impresso no mundo, muitas pessoas tecem comentários superficiais sobre trechos isolados do texto bíblico, outros mal conhecem a história deste livro sagrado que é referência fundamental para três grandes religiões mundiais: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. No entanto, há aqueles que julgam saber ler a bíblia baseados em sua capacidade de leitura dita inspirada.

    A seguir exponho a estrutura de eixos de análises propostos pela Igreja Católica, num estudo elaborado e publicado pela Pontifícia Comissão Bíblica em 1993. Trata-se de uma valorosa contribuição para aqueles que pretendam ler de forma apropriada um texto antigo como a Bíblia, que contém simbolismos, eventos históricos e culturais que são desconhecidos para leigos. A comissão avançou indicando e justificando métodos modernos produzidos pelas áreas acadêmicas, inclusive denunciando como um erro fundamentalista desconsiderarem o fato de que a Bíblia foi escrita por seres humanos inspirados por Deus, utilizando alegorias, em um específico contexto histórico e cultural, consequentemente nem sempre pode ser levada ao “pé da letra” como muitos fazem. 

    Abaixo elenco os principais itens tratados no livro A interpretação da Bíblia na Igreja, os quais nos dão uma boa ideia dos níveis de conhecimento necessários para nos apropriarmos devidamente da mensagem bíblica, o que vai muito além da leitura inspirada.


1. Métodos e abordagens para a interpretação

a) Método histórico-crítico

b) Novos métodos de análise literária

1. análise retórica

2. análise narrativa

3. análise semiótica

c) Abordagens baseadas na Tradição

1. abordagem canônica

2. abordagem com recurso às tradições judaicas de interpretação

3. abordagem através da história dos efeitos do texto

d) Abordagens através das ciências humanas

1. abordagem sociológica

2. abordagem através da antropologia cultural

3. abordagens psicológicas e psicanalíticas

e) Abordagens contextuais

1. abordagem da libertação

2. abordagem feminista

f) Leitura fundamentalista


2. Questões de hermenêutica

a) Hermenêuticas filosóficas

1. perspectivas modernas

2. utilidade para a exegese

b) Sentido da escritura inspirada

1. sentido literal

2. sentido espiritual

3. sentido pleno

     Recomendo a leitura integral do documento acima citado e constante na bibliografia, àqueles que desejam estudar consistentemente os textos bíblicos, pois cada abordagem nos fornece uma leitura específica e apenas a aplicação conjunta dos métodos nos permitirá contemplar a mensagem de forma completa.

Bibliografia

PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA, A interpretação da Bíblia na Igreja. 7. ed. São Paulo: Paulinas, 2006

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Um novo espaço virtual sobre religião e cultura

    Iniciamos um novo Blog no intuito de publicar resultados de nossos estudos sobre Religião e Cultura no Brasil. Este espaço será aberto para publicar textos de pesquisadores que se enquadrem na temática aqui veiculada. Esperamos contribuir de forma relevante para a divulgação dos conhecimentos produzidos no campo da religião e da cultura, com foco em nosso país.

    Caso você tenha interesse em divulgar artigos em nosso Blog, basta entrar em contato via email. Após a avaliação de nossa equipe o material será disponibilizado, com os devidos créditos.

Aprendendo as lições da história Para podermos avaliar qualquer evento no contexto da atividade humana é recomendável que tenhamos um refere...